And the Band Begins to Play é um poema bonitinho que entendo melhor agora. No ano passado (2022), eu corri atrás de obras sobre a pandemia ou que se assemelhavam a ela nas circunstâncias, me levando a conhecer várias obras interessantes a respeito desse tema (A Solitary Spacecraft, Devil Survivor, Bo Burnham's Inside e por aí vai). Quando joguei esse "game" pela primeira vez, tinha feito uma review positiva aqui, só que foi mais por ter sido generoso do que por ter me marcado, porque eu não tinha entendido ele direito naquela época. Eu fui correr atrás dele por conta de umas reviews de uns jogadores que se emocionaram com ele e afirmaram que os ajudaram a lidar com o ocorrido, e quando vi que era um joguinho curtinho de navegador com referências dos Beatles acabei me animando. Na 1° vez, eu acabei curtindo, mas não era bem o que eu esperava, pois não era tão melancólico e autobiográfico quanto queria. Outros motivos do qual ele não me pegou tanto de primeira, é que esse foi o meu primeiro contato com o Bitsy, que é uma engine feita pra jogos curtos e simples aonde você só anda e lê e porque eu não havia sacado que ele era um poema. Poesia foi um dos meus primeiros interesses de quando aprendi a ler, e agora que me toquei nesses detalhes, eu o aprecio mais. O texto é sobre a vivência do criador em meio a pandemia, contando poucos detalhes, mas que são relevantes ao que quer passar, uma mensagem otimista para aqueles que estavam vivendo naquela situação. Também aprecio as referências aos Beatles, como as partes da letra de Yellow Submarine presentes no texto e o uso do submarino amarelo como metáfora pra quarentena. E como é típico de games feitos na Bitsy, é super curto e não tem uma gameplay elaborada, mas é sustentado pela narrativa e sua sinceridade. And the Band Begins to Play pode não ter me marcado ou emocionado como eu queria, mas ele ainda entra pros meus favoritos pelo o que ele faz de bom.

2021

Mole é curtinho e direto, mas bem caprichado. Esse é um daqueles jogos no qual se usa só um botão e o seu design simplista não é ruim não. No jogo você escorrega pelas paredes e só pode mover quicando e se cair ou encostar no chão sem quicar é morte. O jogo não é difícil, mas as fases tem um nível adequado de exigência e facilidade pra deixá-lo recompensador. As mecânicas simples são muito bem utilizadas em cada fase e mesmo não tendo muita profundidade, conseguem ser satisfatórias. Mole é um joguinho bem legal, ele pode não ter muita profundidade e longevidade (dura 15 minutos), mas tudo bem, ele faz bem o que faz e ser simples e despretensioso é o seu ponto forte.

Off-Peak é um museu de arte surreal em forma de jogo. Após um dos meus primos me presentear com um PC Gamer que ele não usava mais, decidi procurar jogos que o meu PC antigo não aguentava (até criei a minha Steam), e decidi jogar esse por interesse e pra ter um gostinho de como são os jogos do Cosmo D. Nesse jogo, você se perdeu numa estação de trem e precisa procurar pedaços de uma passagem num museu de arte pra sair do lugar e no meio do caminho você conhece gente estranha e aprecia o local. A forma mais fácil de resumir esse jogo, é um walking sim à lá Yume Nikki aonde você explora espaços surreais que é minimalista em tudo (adendo: nunca joguei Yume Nikki, então posso estar falando asneira). Ele tem uma história, mas ela é bem vaga e abstrata e não é necessário entendê-la para aproveitar, já que o negócio se sustenta mais pelas vibes do que qualquer outra coisa. As vibes aqui são imaculadas, com cenários surreais que parecem familiares e um onirismo encantador, e por mais que não seja graficamente lá essas coisas, a direção de arte compensa ainda mais pra sensação surreal do game. Por mais que tenha um objetivo presente, ele não é o que importa aqui, já que ao se passar num museu de arte, tratá-lo como uma exibição virtual o ajuda, então aproveite o passeio e veja o que te aguarda nesse museu. O que mais me encantou aqui foi a trilha sonora, com seu hipnótico jazz eletrônico e um ótimo design de som. Suponho que por ser do início da carreira do Cosmo D, esse daqui não seja um dos games mais bem trabalhados ou profundos dele (eu costumo ouvir de outras pessoas que esse aqui é um dos mais fracos dele), mas ter me dado um gosto de como são as suas obras me despertou interesse. Off-Peak é uma maravilha minimalista e o seu onirismo nessa galeria surreal é encantador, e tendo duração breve e sendo de graça, chega a ser uma oferta difícil de recusar.

SNK vs Capcom: Match of the Millennium é melhor do que eu lembrava. Lembro de ter jogado esse aqui num consolezinho chinês de múltiplos emuladores que pertence ao meu tio em 2019, e decidi revisitá-lo recentemente por curiosidade. Pra um jogo de luta portátil (do Neo Geo Pocket Color pra ser mais específico), ele surpreende na qualidade. A apresentação é boa pro portátil, com os personagens adotando um estilo mais chibi in-game que é bem charmoso, além de ter animações bem feitinhas e as músicas terem se saído relativamente bem. O combate também impressiona pra um game desse calibre, com comandos responsivos que fluem bem, escolhas entre 3 estilos de jogabilidade que emulam SF Alpha, KOF 94 e KOF 96 (ou extra e advanced mode pros KOFeiros do 97 e 98) e montar os seus times como duplas de tag team, trios à la KOF ou só 1 personagem sozinho. Ele também tem um conteúdo decente pra um jogo desse calibre, pois além do versus e arcade, o modo olímpiada traz variedade com os survivals e minigames baseados nas propriedas das 2 empresas. Como nada é perfeito, SvC tem alguns problemas. Devido ao Neo Geo Pocket Color ter só 2 botões, os golpes ficaram um pouco compremetidos, só tendo 1 pra soco e 1 pra chute, com a força deles sendo determinada que você aperta, até consegui acostumar, mas alguns personagens não se beneficiam com esse esquema. O jogo tem personagens secretos, nos quais são liberados ao completar o arcade fazendo o good ending, mas se você receberá ou não, é aleatório e isso deixa o processo cansativo. O último problema meu é a tradução, e não me refiro as frases dos personagens, mas sim aos termos usados nas configurações, que são vagos e não explicam nada, além de que o modo de treino ser chamado de Sparring ao invés de Training não ajuda em nada. SNK vs Capcom é uma surpresa bem-vinda, trazendo um combate satisfatório, conteúdo o suficiente, uma boa seleção de personagens e consegue ser até mais completo do que muitos jogos de luta lançados em consoles de mesa dessa época e o seu status de portátil não faz tanta diferença na sua qualidade.

Spring Leaves No Flowers me deixou muito feliz. Enquanto o 2° jogo da trilogia era mais do mesmo, esse 3° muda muito. Dessa vez, a protagonista é a Manami e a história é sobre as suas dificuldades em descobrir as suas preferências. A troca de protagonista aqui é bem melhor utilizada do que no anterior e abre perspectivas muito bem vindas. Nos outros 2, a Manami era aquela amiga solidária mas meio ingênua, e vendo o seu ponto de vista, ela é tão cheia de ansiedade quanto as outras 2 e isso a deixa mais humana. A forma que retrataram ela se descobrindo foi o que me deixou feliz nesse jogo. Eu sou arromântico e assexual (vulgo: aroace), e quando vi que a história se tratava sobre essas identidades em específico fiquei animado, ainda mais porque aroaces tendem a ser pouco discutidos. As dificuldades de se assumir como tal e se abrir foram mostradas com muita delicadeza e sinceridade, e me identifiquei com a Manami nessa parte. Uma adição muito boa, foram as escolhas riscadas, pois reforçam os temas da história de uma forma interessante, sendo essas as opções que Manami mais tem medo de falar. Spring Leaves No Flowers pode não ter mudado a minha vida, mas me deixou contente com o que me mostrou e me faz querer mais histórias sobre se assumir como essa daqui.

Prós: Mostra um processo de se assumir com muito respeito; Manami ficou bem desenvolvida; Escolhas riscadas; Leitura não tão cansativa; Estilo de arte bem fofo.
Contras: Alguns errinhos de tradução no PT-BR.

Musical de Primeiro de Abril é inesperado, mas é uma surpresa agradável. Quando criança, eu era chegado em Youtube Poop, que eram vídeos que pegavam trechos de alguma coisa (desenhos, filmes ETC) e entupiam de efeitos visuais e sonoros até virar a bagunça mais incoerente possível. Hoje em dia, esse tipo de vídeo não me apetece mais, porém, continuo tendo um certo apreço por eles lá no fundo. Esse aqui é uma adaptação do Musical de Primeiro de Abril do Guilhox, para um formato de Visual Novel. O vídeo original era um Poop de 6 minutos do 1° episódio de xxxHolic (anime do qual nunca assisti), e adaptá-lo pra um formato de VN de meia-hora me deixou curioso. A VN é linear e sem escolhas, o que não é ruim, pois o que importa é outra coisa. A adaptação do vídeo pra esse formato foi estranhamente boa, transformando as edições aleatórias em textos com imagens divertidos de ler e rescrevendo os momentos de uma forma que faça sentido no formato. O motivo de ter dito que os YTPs não me apetecem mais, é que eu sinto que a maioria não tem um bom timing cômico, o apelo deles está na aleatoriedade, mas ela não funciona se não tem um bom timing pras piadas. Aqui é diferente, pois o timing cômico aqui é decente, e até cheguei a rir em certos trechos, algo que nem o vídeo original me proporcionou. Além disso, os visuais não são 100% estáticos, já que ele alterna entre visuais limitados de VN e trechos animados e editados do próprio anime, tal qual o seu vídeo de origem. Ele também apresenta 2 desbloqueáveis legais, com 1 sendo um recadinho do Guilhox e outro que é melhor guardar a surpresa. Musical de Primeiro de Abril é estranhamente legal, adaptando bem as suas peculiaridades pra um novo formato, até arrisco dizer que é melhor e mais engraçado que o vídeo original, e digo que vale apena para aqueles que eram chegados nos YTPBRs, assim como eu.

Pokémon Legends: Arceus é divertido, mas não fantástico. Ele trouxe boas ideias que renovam a série, e mesmo conseguindo serem um tanto divertidas, faltam muito polimento. Pra cada 2 pontos divertidos, como a captura de Pokémon e as revisões nas mecânicas de batalha, tem uns 5 pontos ruins, como os mapas desinteressantes e malfeitos, coisas feitas pra deixar a navegação conveniente que mais atrapalham do que ajudam, falta de batalhas duplas ou triplas, uma trilha sonora meia boca e problemas de consistência em qualquer parte. Não nego ter me divertido com ele, mas as suas boas ideias acabam sendo atoladas por uma falta de polimento e a pressão da Gamefreak em apressar e baratear a produção, deixando ele como uma tech demo glorificada vendida a preço cheio.

Prós: Captura de Pokémon mais refinada; Mecânicas de batalha mais dinâmicas; Effort Levels são uma melhora considerável em relação aos EVs e IVs; Pokérides são legais...
Contras: ...Mas podiam melhorar mais; Mapas desinteressante; Fast Travel precisava melhorar; Trilha sonora mediana (mesmo com algumas músicas boas); Muitas inconsistências.

Neotrogla é desconfortável, com alguns poréms. Esse é um poema de terror feito no Twine, sendo lido em navegador na sua página do itch.io. Eu não sou um cara muito de terror, e não é por ser um negócio assustador, é porque na maioria das tentativas de passar essa sensação específica de medo, eu acabo ficando mais apático do que esperam de mim, por isso acabo não me envolvendo de formas significativas com obras desse tipo. Pelo o que entendi da história, é sobre uma mulher que em meio a vida miserável na sua cidade, acaba focando na sua admiração por insetos. Comparado ao outro trabalho da criadora (Post-Disclosure, Devil's Night), que era algo mais singular, esse aqui é mais amplo. Essa premissa junto ao uso de body horror consegue passar vários significados, reprimir paixões pessoais, o tédio de viver numa cidade ou até auto-imagem, e a sensação de desconforto com si mesmo foi bem passada pela escrita. A história é breve, e em teoria isso devia ser bom, já que não arrasta e cansa menos, mas o ritmo da narrativa é um pouco prejudicado pela brevidade, pois o começo que serve como preparatório pro terror acaba sendo mal desenvolvido e a transição pro terror acaba sendo repentina, mas não nego as duas partes serem interessantes. O prólogo detalhando a vida da protagonista é intrigante, seja pela podridão do ambiente ou pelo psicológico dela, e as partes de terror são desconfortáveis, não me deixaram com medo, mas são desconfortáveis. Neotrogla é um experimentozinho legal, sendo um poema de terror competente feito numa ferramenta open-source de storytelling simples, apesar de ser limitado pela duração e formato escolhido.

This review contains spoilers

Mario Goes to Brazil é charmosinho, mas jogá-lo não é grande coisa. Esse jogo é uma Hack Rom de Super Mario World, e como o próprio nome diz, se passa no Brasil. Por ser uma Hack, é claro que a jogabilidade é a mesma de seu jogo de origem, mas infelizmenfe foi nerfada devido ao pulo giratório ter sido removido e a capinha não poder voar e nem atacar (mesmo a remoção sendo meio compreensível, já que os sprites do Mario são do SMB2 e não do world, mas se for assim, deviam ter trocado a capa pela flor). O destaque daqui são as fases, e elas são boas? Depende. Elas são bem 8 ou 80, variando de decentes a tediosas/frustantes. Das que eu gostei, digo que a minha favorita é Goiânia, pois adorei a gimmick do asfalto ser tão quente que o Mario não pode pisar nele, com ele tendo que se sustentar apenas em plataformas e também não podendo tocar no poste elétrico, mesmo não sendo perfeito, o desafio é até bem feito. A minha 2° favorita foi a primeira, que é Copacabana, com o level-design dela sendo bom e mesmo com a gimmick dos Bullet Bills na tela representando balas perdidas, surpreendentemente não se torna chata de difícil. A da Liberdade é legalzinha, mas além da câmeras fixas estilo Zelda 1, não há muito de marcante nela. As do Pampa, Aroe Jari e Caatinga sou indiferente. As piores foram a Mata Atlântica com sua subida longa só pra depois descer e aturar os obstáculos chatos, Itapetinga, que é uma versão piorada da de Goiânia, Pantanal com seus pulos em bolhas e Lakitus e João Pessoa, sendo uma fase aquática lenta e com Lakitus, e toda fase com Lakitu é um Porre. Todos os chefes aqui são um saco, com um único decente sendo o Bowser. A escolha de músicas combina mais ou menos bem, não sendo necessariamente espertas, mas fazendo bem o seu trabalho, com algumas ressalvas. Mario Goes to Brazil tem o seu charme e é ocasionalmente divertido, mas devido a qualidade inconsistente do Level-Design, não vai muito além de charmoso.

Blasé Ace é uma VN curtíssima, mas divertidinha. Eu conheci essa bagaça há pouco tempo (em outras palavras, hoje e nesse site), e decidi experimentar quando li a sinopse. Basicamente, é sobre questionar fanservice (do tipo sexual) em animes quando se é assexual, mas a real sinopse é sobre Berverly Nicks, ume estudante de uma universidade que abendiçoa (benção+maldição) os seus estudantes para fins de palhaçada de anime shonen ou algo assim. O negócio é mais voltado pra comédia, com umas piadocas engraçadinhas envolvendo assexualidade e a pressão de viver num mundo que te força sexo goela abaixo, além de certos clichês escrotos de ecchi. Blasé é curtíssimo ao ponto de eu reagir com "é só isso?" e os questionamentos não são tão aprofundados, mas não posso ser duro porque foi só um negócio feito pra uma diversão rápida e descompromissada, e cumpriu bem esse quesito, mas vou afirmar que gostei da personalidade travessa e indiferente de Nicks e não ter gostado das músicas. Como não estou satisfeito com essa review e Blasé não aprofunda tanto no que aborda, irei enrolar o texto inserindo os meus próprios questionamentos. Como já é de se esperar, eu não curto muito essas paradas de ecchi em mídia japonesa, e toda vez que vejo alguma cena de cara encostando em partes privadas de garota e levando surra, sangramento nasal, espiando mulheres peladas ETC, reajo com desgosto dessas cenas sexuais que só estão lá pra chamar a atenção dos p̶u̶n̶h̶e̶t̶ei̶r̶o̶s̶ telespectadores, além de não achar esses clichês engraçados. Isso se torna mais complicado quando se é assexual, alguém que teoricamente não se seduz por essas banalidades, mas eu não tenho aversão a sexo ou conteúdos do tipo, só não me interesso por completo, e esse desgosto meu desses clichês não é inerente a minha assexualidade, e até tenho alguns animes e games que gosto que tem alguns desses fanservices baratos, mesmo não sendo partes que me agradam. Blasé Ace pode não ser profundo em suas reflexões e durar pouco, mas a sua diversão descompromissada e premissa me agradaram o suficiente.

Skies of Arcadia não é inovador ou a coisa mais bombástica já feita, mas é muito bom. A Sega não é tão conhecida pelos seus RPGs, já que a maioria deles não atingem a mesma fama de suas franquias mais conhecidas, o que é uma pena, pois ela tem vários RPGs de qualidade, e com Skies of Arcadia não é diferente. Em questão de história, é bem típica para JRPGs, mas está longe de ser ruim. Se prestar atenção ele pega bastante coisa de jogos da época (os mais notáveis sendo de FF7 e Ocarina), mas isso não significa que ele seja um plágio descarado, pois ele tem sua própria identidade e não repete cegamente os seus conceitos. Os personagens são bem escritos, com o trio principal de Vyse, Aika e Fina sendo bem carismáticos, e os secundários que os acompanham também tem o seu charme. RPGs desse tipo costumam ter muito problema de escalamento em suas narrativas, ao fazer com que cada conflito aumente cada vez mais o escopo de forma forçada, mas aqui a narrativa deixa a escala resetar e ser reconstruída nos arcos mais importantes, trazendo um fluxo menos truncado. Outra coisa que aprecio, é que ele não é superexpositivo e se importa mais em mostrar do que em contar, respeitando mais a inteligência dos jogadores. Em questões visuais, é fácil não dar bola nos dias de hoje em que os gráficos são cada vez mais avançados, mas ao considerar a época (2000), ele é bem caprichado, com personagens e ambientes mais vívidos do que qualquer outro jogo presente, também tendo uma cinematografia mais elaborada do que a geração passada (pelo menos nos padrões de cenas em tempo real e não de pré-renderizadas). A exploração é gostosa, com cada cidade e dungeon sendo legal de andar e navegar os céus é prazeroso. O problema é que as batalhas aleatórias atrapalham a diversão. A frequência é um tanto alta, mesmo não sendo tão exagerada quanto dizem, mas é que a demora das animações e por encorajar exploração, os problemas acabam sendo mais notáveis. E quanto ao combate, é bem de praxe de JRPGs, e apesar de decente sofre de problemas com balanceamento. Skies of Arcadia não inova e é simples, mas ele faz bem o que faz, e isso é o que importa.

Tomato Clinic é fofo e aconchegante, além de informativo. Comparado com outros jogos da npckc, esse é mais puxado pro lado educativo do que o resto, mas isso não significa que seja isento de profundidade, e de certa forma, isso até o torna um tanto especial em relação aos outros. Com a história sendo sobre um tour numa clínica de doação de sangue aonde você deverá aprender sobre os vampiros e sua cultura, a metáfora já se revela. Isso é uma alegoria sobre como pessoas LGBT acabam sendo pressionadas a se explicar para aqueles fora de seus círculos sociais e tentar fazê-los compreender o que estão passando, mas também pode ser aplicado a outros grupos marginalizados, como neurodivergentes, indígenas ETC. Dava pra facilmente ser um roteiro didáticamente esnobe, mas esse não foi o caso. A abordagem é otimista, mas não é vazia, apresentando profundidade o suficiente na sua escrita simples e também mostra compreensão pelo indivíduo de fora desses grupos que está curioso. O worldbuilding também é bom, não é nada complexo, mas foi legal aprender sobre os vampiros e desmentir os esteriótipos ao lado de Gakuto e Marie, dois vampiros muito gente fina. Além do enredo, também curti o visual de giz de cera, e em jogabilidade, é VN, então não há muitas interações elaboradas, fora alguns minigames simplistas que são inofensivos e adequados pra experiência mais tranquila do game. Tomato Clinic pode não ser a coisa mais elaborada já feita, tanto que a minha nota alta até parece exagero, mas isso é porque ele é perfeitamente adequado pro que é e tem coração e sinceridade no que faz, ainda mais sendo de graça e durar meia-hora, chega a ser difícil dizer não pra um joguinho bonitinho desses.

Another Pokémon Game é uma paródia com coração, mas que não diz muita coisa. Esse jogo de Bitsy satiriza Pokémon e o seu corporativismo ao longo dos anos. Mesmo que o que tenta dizer seja sensato, é expressado de forma superficial. As piadas são bem qualquer coisa, com um senso de humor sarcástico e metalinguístico bem típico, e mesmo algumas sendo engraçadinhas, não diria que foram lá tão geniais ou que a maioria tenha funcionado. As suas críticas, mesmo senso plausíveis, não vão tão a fundo além de "Olha isso, que loucura né?" e acabam sendo mal desenvolvidas. O que foi dito pode não ter sido bem feito, mas não consigo odiar, porque sinto que há uma paixão pela franquia por trás desse sarcasmo superficial. De uma certa forma, esse jogo bate com as minhas crenças, visto que eu amava Pokémon, mas que hoje em dia tenho um olhar cínico e complicado sobre a franquia, ainda que eu continue tendo um certo apreço por ela. Another Pokémon Game está longe de ser ruim, mas podia ter feito um trabalho melhor com sua crítica.

He Fucked The Girl Out of Me é uma experiência trágica e impactante sobre assuntos importantes. Esse é um jogo narrativo de gameplay minimalista que conta sobre as dificuldades da criadora durante a sua transição, de forma semi-autobiográfica. Isso é obviamente uma história trans e não serei um daqueles caras cis que dispensam esse tipo de narrativa por não se identificar com as situações. Os temas abordados são bem pesados, sendo esses sexualidade, prostituição e trauma. A dor que é transmitida pela narrativa é bem palpável, e ver como as tragédias da protagonista se desenrolam é deprimente. Ela não só sofreu com o preconceito com a sua identidade, mas também teve que recorrer à prostituição para pagar pelo seu sonho, com a sua saúde mental deteriorando e como os outros a desumanizam, vendo-a apenas como um objeto sexual. Mesmo que a narração e os diálogos não sejam super elaborados, eles fluem com muita naturalidade, sendo claros, concisos e não precisando descrever com tantos detalhes (como na maioria das Visual Novels). Outra coisa que me agradou, foi o seu senso de autoconsciência, com a narração humildemente admitindo que não mostra absolutamente todos os eventos de sua vida e que esse jogo não deve ser usado pra demonizar profissionais do sexo, e sem ser intrusivo. Outra qualidade é a sua direção de arte. Os visuais são um 2D 8-bits de Game Boy (tanto que a página do jogo até disponibiliza uma ROM pra jogar em emulador), que apesar de simples, captam bem as emoções das cenas e são bem compostos. Se tenho algo a reclamar, é o seu uso de trilha sonora. O jogo dura meia hora, e durante todo esse tempo não houve nenhuma música e teve apenas 1 efeito sonoro que me pegou desprevenido, e mesmo sabendo que o chip sonoro do Game Boy é limitado, não acho que seria impossível fazer músicas tensas que combinem com ele. Esse jogo é importante, por demonstrar facetas da realidade trans que não são muito discutidas e ser um bom exercício de empatia, e não importa se quem tiver contato for trans ou cis, ele é capaz de tocar em qualquer coração.

Prós: Visuais bem compostos; Tópicos abordados com a maturidade que merecem; Fluido e conciso no seu texto; Momentos autoconscientes que não são intrusivos.
Contras: Trilha sonora ausente (exceto por um único efeito sonoro)

What Remains of Edith Finch me proporcionou uma experiência interessante. O seu maior destaque é a narrativa. A sua história é sobre uma jovem investigando os paradeiros de sua família, pois todos sofreram de mortes atrás de mortes. Os temas sobre mortalidade e a imprevisibilidade da vida são explorados a fundo na narrativa, e conseguem causar um bom impacto. Presenciar as mortes de cada membro da família Finch foi catártico, seja pelas circunstâncias ou pelas formas sutis de como são retratadas. O loop de gameplay, consiste em explorar a casa e interagir com o cenário, até achar o item que conta a história de um dos Finch em forma de vinheta interativa, e essas vinhetas são um show de criatividade visual e de gameplay, além das histórias catárticas. Eu ouvi gente que reclama do jogo ser curto, mas eu não vejo problema. Extender a duração não é necessário, pois ele já comunica bem o que quer passar, e ser sucinto é uma das coisas que o torna especial. Sinto que isso é fruto de como os games de hoje conseguem ser bem longos, e se isso fosse filme, não reclamariam tanto da duração. Se tenho um problema a ressaltar, é que às vezes, a navegação é meio confusa, mas nunca foi ao ponto de estragar a experiência. What Remains of Edith Finch mostra que é possível um jogo com gameplay simplista e história breve ser impactante.

Prós: A narrativa é muito bem contada; Temas profundos e impactantes; Atmosfera e mistérios intrigantes; Gameplay simplista, mas bem executada; Os flashbacks dos Finch são um show de narrativa com criatividade visual e de gameplay; sucinto e sutil.
Contras: Tem vezes que a navegação é meio confusa.